"É preciso preparar-se para mais elevados conhecimentos, só neste pensamento pode a nova consciência aproximar-se da humanidade"

(Mestre El-Morya)


terça-feira, julho 22, 2003

Sonho e Vigília

É interessante notar como o fenômeno da consciência suscita profundas dúvidas em todos aqueles que buscam apreender seu real significado. A ciência não tem compreensão completa de como esse fenômeno é produzido dentro da mente humana (ou apenas do cérebro, como muitos materialistas acreditam). É um tema tão complexo que mesmo as melhores explicações dos filósofos são bastante subjetivas, para não dizer, inconclusivas.

Muitas linhas teosóficas dividem a consciência em duas partes, colocando uma delas diretamente em contato com Deus e alguns poucos estudiosos afirmam compreender profundamente como isso acontece. Às vezes são considerados mestres e em geral estão no oriente, ou então, provém de lá. Estes afirmam que não dá para descrever o que é esse conhecimento, mas podem ajudar-nos de forma a atingirmos essa compreensão. Se o que eles falam é algum tipo de desequilíbrio mental ou a verdade pura, não dá para saber, assim como não dá para saber essencialmente se aquilo que nossa consciência pode captar é real ou um grande sonho (isso é até tema de filme hoje em dia). E por falar em sonho, o que seria o sonho senão uma forma de consciência?

Tendemos a interpretar o sonho como uma “seqüência de fenômenos psíquicos (imagens, representações, atos, idéias, etc.) que involuntariamente ocorrem durante o sono” (definição tirada do Aurélio). Os espíritas afirmam que o sono é uma oportunidade para a alma deixar o corpo e vivenciar experiências nos outros planos existenciais. Dentro desse contexto, o sonho nada mais seria que a captação dessas vivências através de nossa consciência objetiva, aquela que usamos quando estamos acordados. Nesse caso, por que os significados dessas experiências são desconexos? Quem diz isso é a consciência objetiva, afinal não se pode afirmar que o sonho é uma vivência desconexa se considerarmos que a alma estaria em um plano onde a percepção do universo é completamente diferente. Quero dizer com isso que se a alma tiver “órgãos” perceptivos diferentes dos do corpo físico, que a conferem uma compreensão do ambiente a sua volta diferente da consciência objetiva, então não tem como traduzir essas percepções nos moldes compreensíveis para a consciência material. É como se vivêssemos em dois mundos com duas consciências diferentes que não conseguem se conversar, ou pelo menos, que uma delas não consegue compreender na totalidade as percepções individuais da outra quando esta segunda está absorta em seu próprio ambiente. Entretanto, não dá para afirmar durante uma análise objetiva em vigília que a consciência da alma não consiga interpretar a consciência material.

Você pode me dizer que quando está dormindo sabe que está dormindo. Como você sabe disso? A resposta freqüentemente vai estar na análise do fato considerando a consciência da vigília, ou seja, você sabe que estava dormindo porque acordou e se lembrou disso, ou então porque alguém acordado o viu dormindo. Estou certo que pouquíssimas vezes você teve (se é que realmente teve) consciência objetiva de que estava dormindo e se isso ocorreu durante um sonho, seu controle sobre os acontecimentos certamente não seguiu alguma seqüência que poderíamos considerar lógica dentro do contexto material.

De fato, se as consciências material e da alma lidam com ambientes muito diversos, a tradução das percepções seria muito complicada. Se a alma puder captar a dimensão do tempo como percebemos distância ou largura, como ela poderia transmitir essa percepção para a consciência material? Se formos mais a fundo nessa questão, qual realidade seria mais verdadeira em termos universais, a do sonho ou a da vigília? Poderíamos especular que durante o despertar da consciência da alma, em outras palavras, durante o sono do plano material, ela interpretaria suas vivências da vigília como se fosse sonho, sendo que aconteceriam quando ela estivesse adormecida e ela poderia não conseguir interpretá-las dentro de uma seqüência lógica considerando seu contexto imaterial, em suma, você poderia viver duas vidas, cada uma delas suportada por uma consciência limitada ao seu ambiente. Não dá nem para dizer que você passa dois terços do tempo na vigília, pois ninguém ainda conseguiu compreender a verdadeira natureza do tempo, nem se ele é realmente constante.

Tendo a acreditar que a consciência da alma consegue sim interpretar nossa vida material, uma vez que nossos sonhos são povoados de situações ou simbolizações relacionadas às nossas experiências da vigília (o famoso psiquiatra Carl Gustav Jung foi muito bom nesse tipo de análise). Nesse caso, ela tem o controle completo de nossas vidas, questão fartamente citada nos estudos metafísicos ou místicos. Temos um ponto em nosso ser que tudo sabe e tudo vê, mas raros são aqueles que têm acesso a essa consciência, muito embora, eles afirmem que só é possível atingir esse ponto após diligente esforço pessoal de purificação ou lapidação da consciência material.

Acordados, observamos a esfinge impassível, que continua imponente no deserto rogando a todos “decifra-me ou devoro-te”. A terra devorará sua consciência objetiva até que esta compartilhe a luz com a consciência da alma, quando teremos o poder de transmutar a matéria. Seria essa a resposta ao enigma? Como não posso afirmar, ainda serei devorado pela esfinge.