"É preciso preparar-se para mais elevados conhecimentos, só neste pensamento pode a nova consciência aproximar-se da humanidade"

(Mestre El-Morya)


quarta-feira, agosto 20, 2003

Adão e Eva Existiram?

A existência dos “humanos primordiais” sempre representou uma grande disputa entre opiniões religiosas e científicas, parecendo mesmo pontos de vista inconciliáveis. Na minha opinião, a ciência ainda não evoluiu o suficiente para apresentar a correta interpretação desse mito, mas sou otimista, acredito que ainda veremos o tempo em que as idéias convergirão.

Acredito sim que Adão e Eva existiram, mas não da forma como as teorias corriqueiras pregam. Pensar nos humanos primordiais automaticamente nos remete ao Jardim do Éden e em todos os simbolismos associados a essa etapa da existência humana. Note, que eu usei a palavra “simbolismo”, o que sugere uma visão mítica dessa história. Quando falo da existência de Adão e Eva, eu não digo que tudo tenha ocorrido exatamente como as escrituras apontam, mas sim, simbolicamente. De fato, se formos um pouco mais fundo na estória, notamos que o Paraíso era um lugar diferente desse em que vivemos hoje e aí é que está o “pulo do gato”. Quem disse que o Paraíso é um plano material sujeito às regras materiais?

Algumas linhas de pensamento mais atuais apontam o Paraíso como um plano dimensional mais abrangente que o nosso, o que indica um comportamento do tempo-espaço diferente do que nossos sentidos físicos conseguem perceber. Na época em que a estória de Adão e Eva foi escrita, a informação das massas era insignificante e a base do conhecimento estava dividida entre filosofia e teosofia, além de ser dominada pelas autoridades clericais. A ciência era incipiente e as explicações eram baseadas em mitos, lendas e sábios. Como traduzir a visão de um plano extra-temporal em termos acessíveis às massas? Note que os profetas têm contato consciente com esse plano e têm que traduzir suas percepções, que pouco tem a ver com os sentidos físicos, em termos acessíveis para as consciências mais limitadas. Certamente, os sábios não conseguiriam descrever o Paraíso para as pessoas comuns como um “plano extra-temporal”, muito menos tentar explicar como as coisas se comportam em um lugar como esse. Isso é tremendamente abstrato até mesmo considerando nosso conhecimento atual. Para mim, muitos mitos carregam esse problema, ou seja, são narrativas simbólicas adaptadas ao tempo-espaço para que a consciência temporal possa tentar entender o que aconteceu.

Concordo com essa visão de que Adão e Eva existiram nessa dimensão extra-temporal e foram protagonistas de uma história que ocorreu em um contexto de tempo-espaço que não temos condições de compreender objetivamente. O próprio Genesis dá uma pista de que eles não tinham corpos como o nosso, basta apenas interpretar de uma maneira menos cartesiana o versículo 21 do capítulo 3: “E o Senhor Deus fez túnicas de peles para Adão e sua mulher, e os vestiu.”. Podemos entender que as “túnicas de peles” sejam verdadeiramente de pele humana, ou seja, vestiu a alma deles com pele humana. Em outras palavras, os encarnou no plano material para a labuta, a expiação e o Karma, algo desconhecido no Jardim do Éden, que não é material, muito embora contenha as sementes da manifestação material.

Se isso for verdade, quem seriam Adão e Eva? Considerando a estória do Genesis, podemos entender que seriam as matrizes da manifestação humana em suas polaridades masculina e feminina. Isso não significa que, estando encarnados, seriam apenas um homem e uma mulher, pois se eles são princípios de manifestação humana, podem ter se dividido em personalidades-alma (individualidades) separadas e encarnado em diversos corpos diferentes. Não vou entrar em detalhes de como ou se isso pode ocorrer, apenas sugiro que você reflita sobre uma hipótese como essa, por mais fantástica que possa parecer. O plano espiritual não segue as mesmas regras do plano material e pode revelar manifestações tão bizarras quanto aquelas que acontecem nos sonhos que temos quando dormimos.

G. O. Mebes, um sábio do início do século passado, traz uma versão parecida com esta que estou desenvolvendo aqui no seu livro “Os Arcanos Maiores do Tarô”, mais especificamente no arcano 11. Lá ele cita um tal de Adão Belial, que pode ser comparável a esse princípio masculino, além de explicar um pouco o contexto da queda dos anjos e a posterior queda da humanidade, situações diferentes em termos teosóficos. O arcano 11 do tarô, que representa a força, também pode ser interpretado como a mônada (essência divina em nosso âmago) – arcano nº 1 que é representado pelo Mago – regendo um sistema fechado – arcano nº 10 que é representado pela Roda da Fortuna, ou A Roda das Encarnações. Não vou entrar em detalhes sobre isso neste artigo por ser um assunto muito extenso.

O ponto importante disso tudo é notar como sempre há a possibilidade de conciliar as diversas linhas de pensamento, bastando apenas ser mais tolerante na interpretação dos mitos teosóficos e menos intransigente na busca das verdades científicas. Não significa que devamos aceitar qualquer coisa que ouvimos, mas, em absoluto, significa que devemos rechaçar qualquer alternativa apenas por não seguir as normas materiais. Fazer isso é recusar-se a compreender a essência da criação e afastar-se de Deus. As respostas estarão na busca científica norteada pelas idéias e conjecturas filosóficas e teosóficas. Uma coisa não pode existir em paz sem a outra. Como no Tao, o equilíbrio divino está no caminho do meio, onde claro e escuro são dois aspectos da mesma luz, a luz do amor de Deus.