"É preciso preparar-se para mais elevados conhecimentos, só neste pensamento pode a nova consciência aproximar-se da humanidade"

(Mestre El-Morya)


terça-feira, dezembro 23, 2003

O Tantra de Osho

Existe muita confusão acerca do Tantra. Aliás existe muita confusão acerca de diversas filosofias orientais (mesmo no oriente) e é fácil entender porquê, quer ver? Você sabe o que é um computador? Isso... esse mesmo cuja tela você está olhando agora. Posso apostar que você quase chegou a apontar para ele como apontaria para uma cadeira. Um vídeo, um teclado, um mouse e uma caixa de metal e plástico onde tem um botão de liga e desliga. Excelente! Então, eu vou lhe dar uma placa de circuito eletrônico vazia, um processador, uns chips, um hard disk e alguns outros componentes para que você monte um, está bem? Não?! Ué, você não disse que sabia o que é um computador??? Aliás, você sabe que existem diversos tipos de computador?

O mesmo acontece com o Tantra. Não dá para conhecê-lo apenas apontando para ele, ou olhando seus componentes externos. Além disso, há diversos tipos de práticas tântricas, ou que estudam o Tantra. A questão é que as filosofias orientais não têm o pensamento racional como princípio básico, por outro lado, vão profundamente em aspectos subjetivos da vida e isso faz com que palavras simples como Tao, Tantra, Ying, Yang, carreguem conceitos tão vastos que exijam milênios de estudo por diversas linhas de pensamento, o que resulta em escolas diferentes apresentando visões diferentes sobre um mesmo conceito. O mais interessante é que todas elas devem estar certas considerando a parcela da verdade contida em seu ponto de vista.

Uma vez eu li que a palavra Tantra seria uma fusão das palavras Tanoti e Trayati, significando respectivamente “expandir” e “liberar”. Mesmo essa significação é vaga, pois, certamente, o “expandir” e “liberar” de Tanoti e Trayati não devem ser compreendidos exatamente da mesma forma como essas palavras são entendidas no ocidente. A etimologia delas é diferente, além do que, a forma do pensar e a visão de mundo hoje são diferentes da época em que as palavras foram concebidas. Isso é comum, mesmo nas filosofias que adotamos no mundo ocidental, por exemplo, o termo que conhecemos como “camelo” no português, quando traduzido do aramaico não significa apenas o ruminante que armazena água em sua corcova, mas também, alguns artefatos feitos de seu couro e seus pêlos, dentre eles, uma corda grossa. Desta forma, podemos traduzir uma das parábolas de Jesus como: “é mais fácil uma corda de pêlos de camelo passar por um buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus”. Faz mais sentido, não? Jesus não falava bobagens, ele era muito contundente e profundo em suas observações. Infelizmente, não podemos dizer o mesmo de algumas pessoas que traduzem seus dizeres (e talvez nem seja por maldade).

No ocidente, Tantra tem uma conotação fortemente sexual, o que, além de ser uma visão muito limitada, gera muito preconceito, pois as pessoas tendem a separar o sexo das suas vidas e associá-lo a algo sujo ou imoral. Pensar isso é o mesmo que dizer que alfaces são verduras contaminadas. De fato, podem ser, mas tudo depende da terra onde são plantadas e dos insumos usados para cultivá-las. Quando não pensam dessa forma, muitas vezes são promiscuas, ou seja, sexo apenas pelo prazer do sexo, o que para mim é o mesmo que regar as alfaces com esgoto. Para Osho, Tantra é algo integral, que tem a ver com o corpo, mente e espírito de forma a fazer com que tudo seja divino e nada seja negado, ou seja, o sexo é algo divino e deve ser respeitado como algo divino e não acontece isolado em apenas uma parte do corpo, mas é uma manifestação integral do ser em todos os planos de manifestação (corpo, mente e alma). Nesse sentido, não é uma prática meramente sexual, mas um profundo exercício do amor, colocando todo o ser no caminho da libertação.

Infelizmente, Osho foi muito mal interpretado e isso aconteceu porque ele sempre falou do amor verdadeiro e de como aceitar o sexo como componente desse amor. Se a grande maioria das pessoas não sabe o que é o amor verdadeiro e, pior, não está interessada em desenvolver essa maravilhosa benção divina, logicamente, não seria possível para elas entender o que Osho queria dizer.

Sexo é sim um caminho para a libertação e o encontro de Deus, mas desde que ele seja apenas um instrumento do amor. Conforme a alma vai se aproximando de Deus, o sexo tenderá a desaparecer e apenas o amor continuará existindo. Segundo Osho no livro “Tantra, Amor e Meditação”, “[...] a não ser que o sexo desapareça, você não será capaz de entrar no Reino de Deus. Mas o sexo desaparece apenas quando você o tiver aceito totalmente, não reprimindo, mas o transformando [...]”.

Nada que Deus criou através da natureza é dispensável. Tudo tem sua razão de ser e deve ser santificado. Não deturpe ou destrua as dádivas de Deus, apenas tente entender que bênçãos elas estão tentando trazer para você. Acredite que tudo o que existe tem uma mensagem de Deus para você. Agradeça pela cama que você dorme, qualquer que seja ela; pela comida que você come, estando ela fria, quente, salgada ou amarga. Trabalhe para Deus, qualquer que seja seu trabalho. Agradeça seu companheiro (a) a cada encontro, a cada abraço e procure santificar cada beijo, cada noite de amor, sempre com profundo respeito, carinho e amor. Se você fizer um esforço em manifestar a pureza de seu coração em todos os momentos, entenderá a mensagem que Osho deixou.