"É preciso preparar-se para mais elevados conhecimentos, só neste pensamento pode a nova consciência aproximar-se da humanidade"

(Mestre El-Morya)


terça-feira, julho 19, 2011

Carma e Darma

Esses dois conceitos são muito comentados, mas muito pouco compreendidos. A questão é que muita gente ouve sobre eles de outros tantos que também ouviram, acabando por perpetuar o famoso “telefone sem fio”, cuja mensagem final, como sabemos, é sempre bem distante da mensagem original. O fato é que eles são muito profundos e para podermos entendê-los por nós mesmos, precisamos estudar e refletir sobre as orientações dos grandes instrutores.

Mas vamos começar este ensaio com o clichê etimológico, ou seja, qual a origem dessas palavras? Eu imagino que seja muito antiga, mas, o mais antigo que eu consegui chegar foi no sânscrito que, como vocês sabem, é uma língua bem falecida e enterrada. Isso significa que o que se conhece dela é proveniente de estudiosos que interpretaram o significado das palavras e que não têm necessariamente uma visão filosófica ou teosófica do assunto. De qualquer forma, eles são uma referência e, associados a um pouco de inspiração e estudo místico, podemos aos poucos desvendar o véu que oculta seu significado. Mas voltando à etimologia, o termo Carma vem do sânscrito Karmam que, segundo os estudiosos, significa simplesmente “ação”, porém, foi utilizado nas doutrinas orientais para expressar o conceito de causa e efeito. O termo Darma também vem do sânscrito Dharma, significando, segundo os estudiosos, “lei natural” ou “realidade”, o que por si só já são dois conceitos bem diferentes entre si. Em termos doutrinários, eu diria que o significado é ainda mais controverso, pois é usado para expressar algumas idéias como: mérito, proteção, oposto de Carma, e por aí vai.

Não quero aqui ser o dono da verdade e explicar definitivamente o que são os dois termos, até porque, eu ainda procuro respostas para meus questionamentos sobre eles, mas vou apresentar meu entendimento após o estudo de algumas linhas de pensamento tanto orientais como ocidentais. A idéia é instigar a curiosidade e reflexão sobre esse tema. Além disso, por ser um tema semelhante, é provável que haja algumas idéias repetidas em relação ao artigo anterior.

O primeiro ponto que gostaria de deixar claro é que Darma não é especificamente o oposto de Carma, mas sim, são termos que expressam conceitos simplesmente diferentes. No artigo anterior, eu descrevi o Carma como uma composição da lei de causa e efeito e da lei de ação e reação. Se analisarmos as duas leis dentro do tecido de espaço-tempo, podemos dizer que ação e reação ocorrem no mesmo instante, ou seja, é uma manifestação vertical em relação ao tempo. Por outro lado, causa e efeito ocorrem ao longo do tempo, ou seja, é uma manifestação horizontal em relação ao tempo. Com essa idéia em mente, fica claro que ambas as leis representam o mesmo conceito, o que varia é sua orientação em relação ao tempo. Essa visão pode parecer bizarra, mas quando falamos de consciência, temos que transcender o espaço-tempo, dado que esse tecido é um componente da parte material da energia universal. De fato, não se pode afirmar que a consciência e o espírito existem apenas na matéria ou que sejam derivados dela, especialmente depois do advento da física quântica, que tirou todos os pilares de sustentação dessas idéias, mas isso é assunto para outro artigo.

Voltando ao Carma, se tomarmos a versão vertical da ação e reação, segundo a própria física, para cada ação existe uma reação de mesma intensidade em sentido oposto, portanto, mesmo que Carma em sânscrito signifique apenas ação, pela física, ação e reação estão interligadas e uma coisa não existe sem a outra na matéria. Aí você pode dizer: “mas a ação da física versa sobre os corpos e as forças que incidem neles e a ação da qual deriva o verbo agir é outra coisa.” Usando a idéia que propus, não é difícil perceber que agir é a versão horizontal da lei de ação e reação aplicada à vontade, que acostumou-se chamá-la de lei de causa e efeito, mas que essencialmente não há diferenças. Mais ainda, se nossa mente objetiva não estivesse presa à passagem do tempo, vindo do passado para o futuro, eu diria que não há impedimento algum para que a lei funcione de trás para frente, ou seja, que uma ação que acontece no futuro pudesse gerar efeitos no passado, afinal, como disse, tempo e espaço é só um tecido, um cenário, onde acontece o drama da existência material e suas experiências consciencionais. Essa possibilidade, ainda mais bizarra, suscita diversos questionamentos sobre a relação entre passado e futuro e nossa concepção sobre eles. De fato, a causalidade pode ser apenas uma interpretação nossa de algo que nossa mente sequer consegue ainda conceber. Deixo o leitor ao sabor de sua imaginação quanto a isso por hora.

A filosofia clássica aponta a vida como uma sucessão de causas e efeitos, ou seja, um efeito, em geral, também é uma causa para um outro efeito e assim por diante, tendendo ao infinito. As ciências ocultas (em especial, a Cabala) expressam esse conceito no termo Jeová, que é composto pelas letras hebraicas Iod, He, Vau, He. Note que Jeová também é usado como significando Deus em algumas doutrinas. De forma simplista, um ocultista entende o ciclo Iod-He-Vau-He da seguinte forma:

    - Iod é a causa, princípio da ação;
    - O primeiro He é o elemento atrativo que recebe a energia ativa do Iod;
    - Vau é o filho, ou seja, o resultado da ação Iod aplicada no primeiro He;
    - O último He pode ser duas coisas: o usufruto do resultado Vau, ou, além disso, pode se transformar em um outro Iod, ou seja, o efeito levando a uma segunda causa.

O ciclo Jeová é representado por uma cruz eqüilátera onde cada letra ocupa uma de suas hastes. Um detalhe interessante do ciclo é que, quando o segundo He atua como um segundo Iod, ele rotaciona a cruz fazendo com que o segundo Iod passe a ocupar o lugar do segundo He, o que se traduz em um movimento circular. Se esticarmos esse movimento perpendicular ao plano da cruz (colocá-lo em terceira dimensão) teremos uma espiral que, olhada de lado, parece uma onda. Vários pensadores citam essa idéia de espiralado ou ondular para a ascensão da consciência (Eliphas Levi, Papus, Pietro Ubaldi, Confúcio, etc.), donde se pode associar que o Carma é um recurso para auxiliar o progresso da consciência e, ao contrário do que muitos pensam, não tem nada a ver com castigo ou punição divina, até porque, como qualquer instrumento, ele não tem valor em si, pode ser positivo, negativo, bom, mau, certo, errado ou qualquer atributo de valor que queiramos dar. Essa é a primeira correção que devemos fazer em nossa psique: o Carma não é ruim nem bom, é só uma lei cujo resultado até pode ser avaliado como bom ou ruim pela nossa consciência, mas que não guarda intrinsecamente qualquer relação com esse valor. Seraphis Bay inclusive afirma no livro “Um Manual para a Ascensão”, canalizado por Tony Stubbs, que o Carma é uma lei criada por nós mesmos e que deveria ser usada enquanto não tivéssemos a consciência de que somos espírito, ou seja, que nossa parte material com sua consciência objetiva é apenas um estágio de condensação da energia espiritual universal e que não difere em nada dessa energia, sendo apenas uma forma específica de organização dela. No momento que tivermos a devida consciência de que somos espírito, podemos decretar o fim do Carma, pois o propósito dele deixou existir.

Se isso for verdade, o que sobra então? Bem... em tese, não precisaria sobrar nada, mas eu diria que se tem alguma coisa que precise sobrar, essa coisa é o Darma. Para mim, Darma não é oposto do Carma, também não é mérito, nem qualquer conceito que possa estar ligado a bom ou ruim, certo ou errado, ou qualquer outro juízo de valor que faça parte da interpretação objetiva do plano material. Usar o termo “Realidade” para Darma até poderia fazer sentido se nós não tivéssemos uma visão parcial do que é realidade. Vários sábios identificam a realidade como aquilo que é real, mas não só o que é real na matéria, simplesmente porque, segundo eles, a matéria é uma ilusão dos sentidos, uma projeção de uma consciência superior, portanto, matéria é só uma pequena parte da realidade. Além disso, algumas escolas de mistério identificam o termo “Realidade” com a percepção pelos sentidos, portanto, uma interpretação de reflexos que até podem ser provenientes da verdade, mas que, por serem interpretações, em geral seu significado não guarda identidade alguma com a essência original verdadeira. “Lei Natural” é mais simpático para mim para representar o Darma, mas eu vou além; Darma para mim é quando a vontade do homem está alinhada com a vontade de Deus e o homem realiza o propósito que Deus determinou para ele na matéria, ou seja, o homem passa a ser um instrumento da Paz de Deus, o próprio Deus encarnado, o médium entre o céu e a terra, ou ainda, o jardineiro de Deus. Quando isso acontece, não há mais necessidade do Carma, dado que, como citado acima, o Carma tem um propósito educativo e se estivermos em Deus, realizando o propósito de Deus, já estaríamos “formados” na universidade divina. Uma lei natural simplesmente acontece naturalmente, como os planetas ao redor de um sol, o vento, a chuva, o fogo, enfim, todos os movimentos naturais que os filósofos orientais tão bem incorporam na sua visão existencial, os expondo em seus ensinamentos maravilhosos.

Darma e Carma são estados existenciais. Quando estamos no Carma, estamos sujeitos às conseqüências de nossos atos, em uma sucessão eterna de causas e efeitos. Quando estamos no Darma, estamos em Deus, realizando Sua vontade e vivenciando Sua Paz. Como qualquer estado existencial, até atingirmos o grau de estabilidade consciencional dármica, podemos oscilar entre Carma e Darma, conforme estivermos mais ou menos alinhados com o propósito de Deus. Quanto mais estivermos próximos do coração dármico, mais a Paz divina se manifesta em nosso ser e mais podemos manifestar naturalmente a sabedoria, consciência e poderes divinos, mais podemos andar sobre as águas e curar os enfermos apenas com nossa presença, com nosso Amor e, com isso, manifestar a felicidade divina em nós e ao nosso redor, como Cristo fez quando esteve por aqui. Não há felicidade perfeita no Carma, apenas no Darma e toda manifestação de felicidade pura provém do estado dármico.

Qual o seu propósito de estar aqui encarnado? Esse é o verdadeiro significado da sua vida, portanto, procure-o assim como você precisa do ar para respirar. Não o procure sozinho, peça ajuda para Deus, para que Ele possa guiá-lo, para que Ele possa estar junto do seu coração nessa busca. A verdadeira reflexão é aquela que reflete o Cristo em seu ser.

Que Deus inspire sua felicidade!