"É preciso preparar-se para mais elevados conhecimentos, só neste pensamento pode a nova consciência aproximar-se da humanidade"

(Mestre El-Morya)


segunda-feira, janeiro 24, 2005

Mais Reflexões sobre o Maremoto

Quase 230 mil mortos na data em que escrevo isto. Na matéria anterior estávamos falando apenas de 30 mil. Muito? Se compararmos com eventos que estão registrados da história atual da humanidade, é. Se compararmos com as teses da teosofia, não. De qualquer forma, o sentimento geral é de catástrofe, muito embora, muitos já tenham perdido o contato emocional com o ocorrido, uma vez que pouco se fala disso na mídia neste momento. É triste constatar isso, mas os fatos relevantes para esse tipo de indústria já acabaram, restando apenas os números.

Entretanto, os resultados do fenômeno continuam lá, junto aos milhões de desabrigados, sem contar as conseqüências geológicas. Ilhas mudaram de lugar, o eixo da terra foi deslocado e os dias estão mais curtos. Por mais imateriais que sejam as dimensões dessas mudanças físicas (20 metros aqui, 6 centímetros ali), elas ocorreram. Como conseqüência natural do evento, houve e ainda está havendo abalos secundários às centenas na região e não são abalos pequenos. Fiz uma pesquisa na internet e constatei que esses sismos variam de 4,4 a 7,1 na escala Richter (7,1 é bem forte), uns 20% a 25% deles acima de 5,5. Também está havendo um crescimento do número de abalos na região da Oceania e na falha da Califórnia onde, aliás, o aumento foi significativo. Houve 8 abalos pequenos nesta falha no mês de dezembro até o dia 26 e mais de 50 depois da tragédia, chegando até 4,5 na escala Richter. O que isso significa? Alguns consideram isso um sinal da natureza, outros de Deus. Para mim, é o resultado da lei de causa e efeito, não no sentido estrito, mas no sentido completo, físico e espiritual. O mundo está constantemente se transformando em corpo e alma, o que pressupõe movimento. Isso nos obriga a olhar as coisas de outra forma, afinal somos viajantes carregados por Melki-Tsedek. Sob o aspecto físico, obviamente as placas tectônicas estão se acomodando na nova posição. Sob o ponto de vista místico, as idéias evoluem e adquirem novas formas. Não podemos deixar de nos indagar se não estaríamos nos aproximando da realização de velhas profecias, muito embora, eu prefiro não corroborar com essa idéia, uma vez que podemos dirigir nosso pensamento para a harmonia e nada de desastroso precisa acontecer se deixarmos a divina essência nos guiar.

No meu modo de ver, alguns sinais menos contundentes são mais importantes que o impacto causado pela tragédia. A mídia informou que a ciência conseguiu a comprovação que precisava sobre o chamado “sexto sentido” dos animais. Segundo consta, não encontraram nenhum animal morto, todos conseguiram se salvar em um movimento de evacuação que deixaria surpreso qualquer departamento de defesa civil. Tivemos até mesmo animais guiando seres humanos, como o caso dos elefantes de um zoológico que destruíram suas jaulas e fugiram colina acima, sendo que muitas pessoas os acompanharam. Várias tribos aborígines foram alertadas do fenômeno por pássaros e se refugiaram nos morros, salvando todos da aldeia. Eles demonstraram o quanto os ditos “civilizados” não têm civilidade suficiente para escutar as palavras da natureza e deixaram patente a pequenez e fragilidade deste homem e suas criações. O homem pode sim comandar a natureza, mas para isso tem que se render à divindade que existe em sua alma, só assim Deus entregará o poder divino em nossas mãos. Mesmo assim, nos dará também a sabedoria para que respeitemos as mudanças necessárias que a natureza realiza, “não retendo a água num momento que ela deve correr”, “não extinguindo a chama quando ela deve arder” (retirado de um texto Rosacruz).

Outro ponto que ficou bastante claro é: aquele que não encerrou sua missão aqui, se salva como que por milagre, ou seja, pode estar no meio do fogo, mas não se queima. Se bem que em vez de fogo, água é a palavra mais adequada aqui, como o caso dos mergulhadores que ficaram poucos metros abaixo da onda e não se aperceberam do que acontecia. Além das várias pessoas que decidiram não sair do hotel, ou perderam o transporte e não conseguiram chegar a seu destino, ou mesmo ficaram flutuando ao léu até serem encontradas, incluindo aqui bebês e crianças.

O fato que mais me causou alegria é que existem multidões de pessoas interessadas em exercitar suas virtudes. No dia seguinte ao ocorrido, havia pessoas de todas as partes do mundo deixando seus afazeres e compromissos com destino às áreas afetadas com o único intuito de ajudar. Um grande exemplo de dedicação ao próximo (talvez nem tão próximo). Além disso, muitos dos que não tiveram a disponibilidade de se deslocar até lá fizeram sua parte onde estavam mesmo, arrumando formas de coletar ou transportar donativos de toda a espécie para as vítimas, em um feliz e saudável esforço de solidariedade. Alguns esbravejaram contra os arrogantes, fazendo eles moverem-se, o que também é louvável. Às vezes é difícil entender o que aconteceu, especialmente quando estamos do outro lado do mundo e o evento é tão inusitado que quase chega a ser surreal. Mesmo que alguma nação tenha se movido por obrigação ou pela vergonha da omissão, ainda sim há mérito nisso, pois mostra que ainda existe a semente da solidariedade no coração daqueles líderes, mesmo que semeada em campos estéreis. Uma boa rega pode fazê-la brotar, talvez mirrada ou tosca, mas brota. Em suma, a estrondosa maioria se mobilizou, não importando credos e etnias. Isso prova que o bem está no meio de nós e que estamos apenas fragilizados pela campanha de desgraça que algumas pessoas insistem em disseminar pelo mundo.

O que precisamos para que possamos nos mobilizar pelo bem? Mais catástrofes? Mais sofrimento? Mais algum mártir que entregue sua vida para nos salvar? Pensem, quantas pessoas boas existem para cada sádico? Quantos amigos viciados você tem para cada amigo são? Quantos ladrões para cada bom samaritano? Não que não exista a maldade no mundo, nem que ela não seja destrutiva e medonha, mas existe muito mais histeria com relação a isso do que realmente os números indicam. Na verdade, o que existe é medo, que gera omissão e reações destrutivas. Há uma supervalorização do instinto de sobrevivência que leva muitos a se desconectarem do Grande Pai. Se você é uma criança e confia em seu pai, o que você faz frente ao perigo? Coloca-se atrás dele e confia em sua força. Se você está longe do seu pai, o que você faz? Arranja uma toca e se encarcera lá, acumulando provisões para sobreviver, saindo apenas quando é seguro. Além disso, você se arma e fica preparado para reagir destrutivamente ao primeiro sinal de perigo. Isso também acontece em termos psicológicos, criando idéias preconceituosas e guerras santas. Se além do seu pai, você tiver amigos ao seu lado, você se esconde do perigo, ou estufa o peito e junto com todos o enfrenta?

Temos que confiar em nosso Pai e juntar nossos amigos para criar uma aldeia global, onde o perigo é a desigualdade, o preconceito e o desamor. Se isso fosse feito, não teríamos uma luta tão dura pela sobrevivência e pela paz. Aliás, lutar pela paz é o mais irracional dos paradoxos. Podemos sim pacificar pela igualdade, liberdade e fraternidade, pacificar pela confiança, virtude e sinceridade, pacificar pela luz, vida e amor. Vamos pacificar!