"É preciso preparar-se para mais elevados conhecimentos, só neste pensamento pode a nova consciência aproximar-se da humanidade"

(Mestre El-Morya)


sábado, outubro 15, 2011


A Física Quântica e a Derrocada do Realismo Materialista (parte 2)

Apesar de Einstein ter contribuído largamente para a física do século 20, suas teorias estavam alicerçadas na mecânica clássica. Isso não é, de forma alguma, um problema para seu legado, até porque, mesmo naquilo que ele achou que era um erro teórico para o conceito de expansão do universo, na realidade, hoje já foi demonstrado que era um tremendo acerto. Eu diria que aqui temos uma questão de maturação de idéias; Einstein foi um dos últimos expoentes da mecânica clássica, portanto, estava lapidando as últimas arestas de um tema já bem maduro. Na mesma época, havia pesquisadores, como Niels Born, Max Bohr, De Broglie, Heisenberg e outros, que estavam desbravando uma floresta desconhecida, desbastando uma pedra mais bruta e postulando novidades muito polêmicas. Mesmo assim, Einstein não deixou de considerar as idéias deles, tecendo o seguinte comentário aos estudos de De Broglie: “A tese pode parecer loucura, mas é realmente lógica”. De fato, as fórmulas matemáticas da mecânica quântica têm variáveis bizarras, do tipo, o produto entre as “incertezas de posição de um elétron” e o “momentum” dele é maior ou igual à “constante de Planck”. O “momentum” tem relação com a famosa fórmula de Einstein, a “constante de Planck” todos nós estudamos no colégio e já era algo estranho por si só, dado que dizia que uma partícula “pulava” de um estado a outro sem passar pelas fases intermediárias, mas as “incertezas de posição de um elétron” é um tanto controverso para o determinístico e previsível universo mecânico dos primórdios da física. De qualquer forma, o fato é que as fórmulas da mecânica clássica funcionam para todos os objetos não quânticos, mas falham para os quânticos, sendo que as fórmulas da mecânica quântica funcionam tanto para explicar o habitat quântico, como todos os demais fenômenos da mecânica clássica, até com mais precisão, ou seja, são mais abrangentes que as primeiras. Para entender isso, podemos fazer uma analogia com relógios: por exemplo, se você tiver dois relógios, um mecânico, baseado em engrenagens e molas, e outro eletrônico, baseado em cristal de quarts, qual você acha que é mais preciso? Tecnicamente falando, um eletrônico de boa qualidade vai ser mais preciso que um mecânico também de boa qualidade, sendo que ambos são relógios e servem para marcar as horas. Além disso, normalmente o eletrônico terá cronômetro e outros quitutes não disponíveis no mecânico. Outro detalhe relevante é que, assim como muitos fenômenos estranhos derivados da teoria da relatividade, que foram testados e validados em experimentos na década de 1960 com o advento dos relógios atômicos, fenômenos verdadeiramente bisonhos foram testados e validados em experimentos quânticos alguns anos mais tarde. Mesmo assim, ou até mesmo por conta disso, alguns pesquisadores muito afinados com a mecânica clássica acabaram virando as costas para essas teorias e continuaram defendendo o universo mecânico, mesmo que seus discursos já estivessem notadamente vazios e frágeis.

Os postulados da física quântica são bastante desconcertantes. Mais que isso, eles criam paradoxos que podem ser resolvidos adotando modelos teosóficos; aliás, chego a acreditar que podemos encontrar integração entre os conceitos teosóficos e os conceitos quânticos, como se um precisasse do outro para se afirmar e sustentar. Por conta disso, muitos pensadores de áreas tão distintas quanto se possa imaginar tentam incorporar esses conceitos em suas teorias (falo de psicólogos, parapsicólogos, filósofos, médicos, homeopatas, terapeutas florais, etc.), muitas vezes de formas tão bizarras quanto as próprias teorias quânticas. Usar a palavra “quântico” acabou virando estratégia de marketing, criando um certo descrédito por conta de alguns charlatões, além da banalização do termo, o que gerou desconfiança das pessoas e as afastou de informações que seriam muito relevantes para suas reflexões existenciais. Em meio a essa enxurrada de idéias “viajantes”, várias pesquisas promissoras estão despontando e, mesmo que empiricamente, acabam por demonstrar resultados importantes. É engraçado que essa reação das pessoas se assemelha a reação que eu citei acima dos físicos clássicos, levando-me a pensar que esse tema gera esse tipo de resposta, ou seja, ou você vai fundo nele, ou você finge que ele não existe e que não faz parte da sua vida. Porém, a participação que ele tem na sua vida é integral, dado que há pesquisas que indicam que existem fenômenos quânticos determinantes no funcionamento de seus nervos, ou seja, suspeita-se que a simples percepção de que você tocou em algo quente pode acontecer por conta de um fenômeno chamado de “entrelaçamento quântico.”

Mas no que se baseia essa tal de física quântica? Estamos já no segundo artigo e vocês podem dizer que, até agora, só estou rodeando o assunto. Como disse no primeiro artigo, é um assunto vasto, e lá eu apresentei os postulados do realismo materialista. Nesse artigo, vou apresentar os postulados da física quântica, assim teremos um conhecimento básico para analisar as conseqüências do segundo sobre o primeiro em um próximo artigo. De novo, estou usando como referência o livro “O Universo Autoconsciente” de Amit Goswami, por ser uma obra que resume tudo isso de forma bem concisa na primeira parte para que ele possa desenvolver sua conceituação de universo na segunda. Não pretendo apresentar as proposições de Goswami nesta série, até porque, para quem se interessar, basta procurar o livro nas boas casas do ramo, como diria a máxima da propaganda tradicional.

Postulados da Mecânica Quântica:

1- Princípio do Salto Quântico: esse princípio teve como origem a discrepância entre a medição de emissões de luz de objetos incandescentes e as fórmulas que descreviam o fenômeno. Para solucionar essa diferença, Planck corajosamente afirmou que “os elétrons emitem ou absorvem energia apenas em certas quantidades específicas, descontinuamente separadas” (excerto do livro acima). O significado disso é que, para conseguir fazer essa absorção ou emissão de energia em lotes, o elétron tem que se posicionar no universo aos saltos, indo de uma camada à outra sem passar por nenhuma posição intermediária, ou seja, ele simplesmente desaparece de um lugar e “magicamente” aparece em outro. A primeira conseqüência dessa afirmação é a destruição do mundo analógico da mecânica clássica, onde não haveria descontinuidade no universo e tudo que vai de um ponto a outro, passaria obrigatoriamente por infinitas posições intermediárias. Isso vale para os macro-objetos que conhecemos, mas não para as partículas quânticas.

2- Princípio da Complementaridade: como conseqüência dos estudos de Bohr e De Broglie, podemos dizer de uma forma simplista que “as partículas materiais são simultaneamente onda e partícula, e a forma (onda ou partícula) como elas se mostram para nós é determinada pela nossa decisão de como medi-las.” Veja que estou falando de ciência formal, estruturada em fórmulas matemáticas e experimentações de laboratório. Esse interessante postulado insere na ciência a nossa consciência inteligente, não só como o observador passivo proposto por Einstein, mas uma entidade com poder de decisão sobre a forma como o universo se apresenta. De fato, esse princípio enuncia que o elétron não é nem onda, nem partícula, pois a sua verdadeira natureza é transcendente e ambas as características se mostram complementares entre elas, além do que, nós temos poder sobre sua apresentação material. Como diz Goswami, poderíamos chamar o elétron de “ondícula.”

3- Princípio da Incerteza de Heisenberg: esse princípio é formulado através da matemática e, para não dar explicações complicadas aqui, vou tentar traduzir essa fórmula em termos mais palatáveis para quem não tem fluência com os números. Basicamente, ela diz que “não podemos simultaneamente determinar, com certeza, a posição e a velocidade (ou momentum) de um elétron” (excerto do livro acima), com isso, não temos como determinar a trajetória dele e, por conseguinte, não conseguimos prever precisamente a posição dele. Trocando em miúdos, só conseguimos dizer que existe uma possibilidade maior ou menor de encontrar um elétron em um determinado lugar e, quando o achamos, não sabemos para onde ele vai; é como se ele fosse um “fantasma” que até pode ser achado em um lugar assombrado, por exemplo, um cemitério, mas nunca conseguimos saber se ele vai aparecer na nossa frente, ao nosso lado, lá no canto do muro, mas é muito mais provável achar um fantasma no cemitério do que na principal avenida da sua cidade. Detalhe: estamos falando de possibilidades, então, isso não significa que o fantasma tem que ficar no cemitério, aliás, a fórmula diz que é provável que ele esteja lá, mas que se não sabemos onde ele está, então, ele está em toda a parte ao mesmo tempo (isso mesmo, no mesmo instante em mais de um lugar), espalhado por todos os lugares e potencialmente pode se manifestar em qualquer lugar do planeta, incluindo a avenida da sua cidade. Por mais bizarro que isso possa parecer, foi com base nesse princípio que cientistas japoneses já conseguiram fazer há alguns poucos anos um experimento de teletransporte de partículas, o precursor do teletransporte do filme Jornada nas Estrelas.

4- Princípio da Correspondência: esse postulado é muito interessante e eu diria que ele tem um certo apelo diplomático, pois, ao mesmo tempo em que a física quântica derruba os axiomas do realismo materialista, ela não joga fora os conceitos formulados através deles, apenas expande as possibilidades para um mundo que, até então, era desconhecido. Esse postulado diz que “no domínio da física clássica, as deduções da mecânica quântica relativas ao movimento de objetos correspondem claramente às que são feitas usando a matemática newtoniana, como se fossem clássicos os corpos que estamos lidando” (excerto do livro citado acima). De fato, se olharmos para a história das descobertas científicas, isso é o que normalmente acontece; a cada passo da humanidade, nós temos um novo descortinar de possibilidades que apenas aumentam nosso conhecimento do universo, sem descartar as conquistas que as grandes mentes já fizeram. A física clássica construiu o mundo que conhecemos hoje, portanto, em sua época ela estava adequada. O mundo que vem pela frente é mais profundo, então, precisávamos de uma linguagem física também mais profunda.

Gosto muito da reflexão que esse tema nos apresenta. Apenas lendo os axiomas, o mundo já parece dar uma longa e surpreendente volta. Com quatro princípios, já nos encontramos inseridos em vários paradoxos que nos suscitam as reflexões de filósofos modernos, como Bertrand Russell, que dizia que nós não podíamos confiar no que nossos olhos vêem; aliás, essa declaração já seria uma afronta à ciência formal que se baseia, de certa forma, no que os olhos vêem. De fato, pelo último postulado, podemos dizer que o que nossos olhos vêem realmente está lá, pode ser calculado como existente, mas a mecânica quântica também diz que é muito mais do que está lá, ou seja, o que vemos é apenas uma pequena parte da verdade universal.

Até a próxima parte do tema e fiquem na Paz de Deus.