"É preciso preparar-se para mais elevados conhecimentos, só neste pensamento pode a nova consciência aproximar-se da humanidade"

(Mestre El-Morya)


quinta-feira, junho 26, 2003

Em Busca da Harmonia

Como todos os conceitos que estão relacionados com aspectos sutis do universo, a harmonia nem sempre é compreendida em toda sua profundidade. Muitas vezes associa-se harmonia com equilíbrio, outras vezes com paz, outras ainda com ausência de interferência ou não reação, outras com beleza, etc. Acredito que a melhor forma de entendermos como funciona a harmonia é através da música e das ondas sonoras, onde podemos ter um vislumbre da verdadeira harmonia universal.

Primeiramente, vamos analisar o que é harmonia em música. Se ouvirmos uma pessoa cantando um “lá, lá, lá, ri, lá”, isso será uma melodia (bem... faça um esforço e tente imaginar que sim). Esta, por sua vez, é formada por notas musicais, ou seja, cada “lá” isolado seria uma única nota musical. Se essa mesma pessoa estiver em um coral, no exato instante que ela estiver cantando um “lá”, uma outra pessoa poderá estar cantando um outro “lá” (ou “li”, ou “ló”) que será mais grave ou mais agudo. O encontro desses diversos “lás”, cantados exatamente ao mesmo tempo, forma o chamado acorde musical, ou seja, várias notas musicais diferentes tocadas simultaneamente. Se essas notas estiverem matematicamente organizadas de modo a resultar em algo que pareça afinado, ou, por assim dizer, gostoso de ouvir, temos a chamada harmonia tonal, ou harmonia clássica (não quero apresentar aqui conceitos formais de música, apenas me fazer entender).

Um ouvido treinado poderá perceber cada nota separadamente, mesmo que várias sejam tocadas juntas, mas isso é uma habilidade cerebral, pois fisicamente, só existe uma única onda sonora e esse é um ponto importante. Se não for um coral, mas uma orquestra, teremos diversos instrumentos que produzem sons diferentes (como se fossem “cores” diferentes), que o ouvido treinado pode distinguir, mas, em termos físicos, todos estarão misturados em uma única onda sonora. Cada instrumento interfere, afeta, interage e modifica a onda, alterando seu equilíbrio. Se for uma interferência harmônica, ainda haverá beleza, equilíbrio e o som gostoso (paz?). Nenhuma nota está isolada, todas interagem entre si, afetando o desenho final da onda e a harmonia é gerada dependendo da ordem, ou da relação, estabelecida entre elas. Cada nota tem que ser modificada individualmente para que se consiga estabelecer essa harmonia, pois uma pequena variação na sua freqüência, afetará o resultado harmônico do todo orquestral.

Muitos de nós acreditamos que para estarmos em harmonia, devemos nos isolar e “meditar”. Se compararmos com a música, uma nota isolada não é uma harmonia, pois para ser, várias notas precisam ser tocadas em conjunto. Certamente, o músico que está aprendendo uma determinada música se isolará para treiná-la e encontrará um ponto pessoal de ajuste para cada nota, mas quando ele se reunir com os outros músicos, terá que ajustar esse ponto de acordo com as necessidades da orquestra, de forma a produzir harmonia. Quando meditamos isolados, achamos nosso ponto de equilíbrio, mas isso não é harmonia, é apenas um exercício para encontrar Deus. A verdadeira harmonia deve aparecer quando estamos vivendo as provações da vida, onde, à partir desse encontro com Deus, deixamos que Ele nos mostre o caminho e modere nosso equilíbrio individual para criar harmonia ao nosso redor, pois, como pode ser inferido da explicação acima, a verdadeira harmonia só existe em âmbito coletivo. Usando termos taoístas, ser yang (positivos) em situações yin (negativas), yin em situações yang e neutros quando não houver necessidade de interferência. Em suma, sermos o elemento harmonizante, o peso certo da balança para que o fiel esteja centrado. Então, a harmonia se manifestará como a somatória de todas as forças existentes em nós e ao nosso redor.

Como o músico hábil que consegue achar a harmonia intuitivamente e sem pensar, assim devemos proceder na nossa vida, pois se nossa mente ficar tagarelando e julgando o tempo todo para achar o ponto de equilíbrio, Deus não poderá falar conosco, ou mesmo através de nós. A harmonia é algo que brota naturalmente, desde que nos esforcemos para estar permanentemente ligados a Deus, vendo Ele em todas as suas manifestações.

Da mesma forma como uma onda sonora é única, independentemente das notas musicais que a compõe, estamos todos unidos por uma única corrente de vida. Quando nos isolamos do mundo, não estamos criando harmonia, apenas estamos estudando a música celestial. Precisaremos disso enquanto não estivermos suficientemente proficientes e devemos fazer isso diariamente, visto que é um treinamento. A cada dia, estaremos melhores e poderemos ajustar mais facilmente nossa vibração interferindo, afetando, interagindo e modificando a harmonia ao nosso redor, de forma a ajudar na criação da harmonia divina. Quanto mais treinados estivermos na música celestial, mais conseguiremos intuir qual a melhor intenção, pensamento, ação, não ação, vibração, etc. que devemos ter para que possamos ajudar a criar uma belíssima harmonia ao nosso redor.

Na matéria não há equilíbrio absoluto, uma vez que ela é incompleta. Tudo sempre está em movimento, causando desequilíbrios constantes. A harmonia só pode ser conseguida entregando nosso coração a Deus e deixando que ele atue em nós e através de nós.

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