"É preciso preparar-se para mais elevados conhecimentos, só neste pensamento pode a nova consciência aproximar-se da humanidade"

(Mestre El-Morya)


domingo, setembro 11, 2011

O Anjo da Provação

Recentemente, eu postei um comentário em uma rede social que dizia “Nosso Salvador é Jesus, mas nosso Libertador é Lúcifer.” Ninguém comentou nada, talvez porque não tenham entendido, talvez porque não estão nem aí para a cocada mesmo, talvez porque tenham tido medo, afinal, quando se fala de Lúcifer, muitos acreditam que estamos acalentando o demônio e, por conta do que aprenderam erroneamente, julgam rapidamente antes de refletir sobre a questão. O fato é que as pessoas são programadas desde criança com informações mal interpretadas, propositalmente ou não, pois a maioria das religiões ou estruturas de poder quer mesmo é controlar as pessoas pelo medo, o que acaba perpetuando idéias que não ajudam em nada o desenvolvimento espiritual. Um verdadeiro buscador da Luz deve adotar a máxima de Adhemar Ramos: “Não acredite em nada do que eu falo, mas não duvide de nada do que eu falo.”, ou seja, em vez de dar crédito a qualquer coisa que se ouve por aí, questione, pesquise e conclua por si só, pois aquele que fala pode ou estar iludido, ou estar submetido a alguma organização interessada em estabelecer crenças para controlar as pessoas, não necessariamente de forma maliciosa, mas que, de fato, acabam cerceando nosso livre arbítrio. Isso vale inclusive para o que você está lendo agora.

Lúcifer é um ser mitológico muito pouco citado na Bíblia e, aonde é citado, não é tido claramente como demônio. De fato, deram uma tremenda má fama para ele por terem atribuído seu nome a várias confusões de interpretação dos textos bíblicos, como em Jó, quando se menciona os excessos de um rei da Babilônia, ou em Ezequiel, quando o associam a um anjo caído, seja lá o que isso represente verdadeiramente. De qualquer forma, se é um anjo, não é diabo e, mesmo que tenha se perdido, seria só mais um irmão imerso em um mundo de ilusões, da mesma forma que nós. Lúcifer é um nome oriundo do Latim que significa “portador de luz”; também é associado à estrela D’Alva, ou seja, o planeta Vênus que, na mitologia, é a deusa do amor. Pela possibilidade de estar ligado ao erotismo ou à sexualidade, uma vez que Vênus também tem essa conotação, isso por si só já pode ter suscitado uma visão preconceituosa do clero, pois, como sabemos, o clero em geral confunde o amor erótico com pecado por conta dos seus recalques religiosos. Veja também que, no Apocalipse, o próprio Cristo identifica a si mesmo como a Estrela da Manhã, ou seja, o mesmo Vênus que é associado a Lúcifer, sendo que eu já vi interpretações em algumas linhas de pensamento de que a ascensão de Cristo está diretamente ligada ao resgate de Lúcifer, sendo ele, em verdade, a consciência máster de todos os anjos. De fato, essa multiplicidade de conceitos contraditórios não é por acaso e tem sim sua razão de ser, pois, mesmo que seja muito difícil de entender, a Bíblia é tida até hoje como a palavra de Deus e, se Deus assim não quisesse, o livro santo seria outro.

Como vimos, o ponto cabal da questão luciférica é sua associação com o demônio. Primeiramente, devemos deixar claro que a existência do demônio da forma como se prega é uma grande negação do Deus único. Não existe um ser como Deus, mas contrário a Ele, assim como não existe céu e inferno como regiões opostas em algum lugar do universo, independentemente do que seja verdadeiramente o simbolismo disso. A própria física está levando o conceito de Deus a um novo patamar por conta dos paradoxos materialistas que a física quântica consegue resolver com o conceito de consciência única, porém, de qualquer forma, ela apenas soma e aponta para a veracidade da idéia do Deus único. Se Deus é único, o demônio é qualquer coisa menos o oposto de Deus, pois, se ele existisse, estaria subordinado a Deus, dado que Deus é o inominável onipresente, então, também estaria presente no coração do demônio. Por conseqüência, se existe Deus no demônio, seria ele verdadeiramente um demônio? Que existam forças involutivas, podemos até aceitar, mas essas forças nada mais são do que a condensação das vontades desequilibradas que nós mesmos irradiamos ou, talvez, a existência de almas muito primitivas que ainda não teriam alcançado um mínimo de formação moral e ética para conviver harmoniosamente no mundo, em suma, crianças espirituais.

Mas se o demônio não existe, quem é Lúcifer e por que ele tem essa má fama? Começando pelo fim, a má fama dele é por conta da nossa “incrível” capacidade em tecer julgamentos ignorantes ou aceitar julgamentos ignorantes de outras pessoas extremamente parciais. Entretanto, a má fama e a contradição têm a ver com o propósito de Lúcifer. Gostaria de deixar claro que o que se seguirá, mesmo que embasado em estudos filosóficos e teosóficos sobre várias linhas de pensamento, é a minha conclusão sobre o assunto, portanto, não se esqueçam da máxima de Adhemar Ramos exposta acima. Para entender Lúcifer, temos que tentar localizar nossa consciência nos planos superiores, onde não estamos sujeitos à ilusão da individualidade, nem presos na dimensão do espaço-tempo, em outras palavras, estamos em um lugar sem espaço, sem tempo, lendo o pensamento de todos e sentindo o sentimento de todos, em suma, com pouca individualidade. Sim... é muito estranho tentar imaginar isso, pois o Ego não gosta de saber que você conhece esse lugar, então, trata de escondê-lo. De qualquer forma, você sonha e os sonhos estão mais próximos dessa região da consciência do que o Ego  em seu estado de vigília. Saindo um pouco da poesia e indo para a ciência, quando a física quântica fala de consciência única, é exatamente isso que ela quer dizer, ou seja, que a sua consciência primordial, a minha, a do mendigo da esquina, a do político, a do santo, etc. são todas provenientes do mesmo lugar; na verdade são exatamente a mesma consciência divina, portanto, se Cristo disse que estava em nós, Lúcifer também está. Isso é corroborado pelo que citei do Apocalipse acima, ou seja, Cristo e Lúcifer também fazem parte da consciência única. Podemos dizer que, no mundo transcendente que eu pedi para você se imaginar, consciências mais parecem emanações abstratas, como vibrações, conceitos, sentimentos, intenções, etc., do que aquilo que costumamos perceber como o Ego no estado de vigília. Um anjo é um ser que cuida das nossas emanações de virtude, ou até melhor dizendo, eles são a própria virtude e sempre que manifestemos uma determinada virtude, estamos manifestando a consciência angélica daquela virtude. Por isso que os conhecemos como anjo da sabedoria, anjo da ternura, anjo da fé, anjo da liberdade, anjo da força, etc., independentemente dos nomes que são dados a eles que, via de regra, são terminados em “el” (Miguel, Uriel, Samuel, etc.). Apesar de poucos dizerem isso, considerando nosso julgamento limitado sobre o certo e errado, podemos dizer que todo anjo teria seu aspecto positivo e negativo. Eu prefiro simplesmente seguir a linha evolucionista e dizer que toda virtude pode manifestar-se de forma madura e completa em nós, ou pode ainda estar em desenvolvimento, manifestando-se de forma incompleta ou desafinada, podendo até mesmo causar problemas e “erros”, ou seja, defeitos não são erros ou pecados, são apenas virtudes incompletas e imaturas, que ainda precisam de muita lapidação. Aí você vai me dizer que Lúcifer não termina em “el”. Algumas linhas de pensamento afirmam que Lúcifer é a consciência total de todos os anjos ou, para ser mais técnico no termo, a consciência angélica integral que contém todas as emanações angélicas. De fato, não posso afirmar se isso representa a verdade ou não, mas é uma forma interessante de entendê-lo.

Mas por que a má fama e a contradição têm a ver com o propósito de Lúcifer e por que Lúcifer seria nosso Libertador? Porque Lúcifer é o anjo da provação, aquele que vai nos testar até a última gota de sangue, até o último segundo, como fez com Cristo. Como provador, é lógico que ele vai nos expor a todo tipo de tentação para que tenhamos a certeza e confiança que nossas virtudes são fortes o suficiente para voltarmos à casa do Pai. Talvez ele se manifeste como a própria tentação dentro de nós. Essa foi a missão que Deus colocou em Lúcifer, portanto, Lúcifer é um anjo de Deus, subordinado a Deus e cumprindo uma missão divina, que é a provação. Ele vai nos expor à tentação do medo, dos excessos, da dúvida, etc. Principalmente, ele vai se mostrar como nosso pior inimigo para testar nosso Amor. As palavras de Jesus “amai vossos inimigos” nos levam diretamente aos braços de Lúcifer, não como um guerreiro ávido por vingança, mas como um cordeiro esbanjando amor ao seu algoz, da mesma forma que Jesus fez. Isso só pode acontecer se tivermos uma fé inabalável em Deus, seguindo os conselhos de salvação do Cristo Cósmico, afinal ele é o Caminho e a Salvação. E no exato instante em que Lúcifer levantar sua adaga para golpear seu cordeiro, como Abraão fez com Isaque no Monte Moriá, se você estiver pronto, lapidado pela fé em Cristo (ou no Deus de seu coração, se você não for Cristão), imerso no amor incondicional que se entrega em holocausto à própria representação do demônio, o próprio Lúcifer vai lançar-lhe o mais terno e amoroso olhar, dizendo: “Eu te liberto!”, e vai apontar para a porta aberta que homem algum pode fechar, indicando o caminho onde resplandecerá a imagem do Cristo Cósmico, recebendo de braços abertos seu cordeiro no seio do Deus Pai.

Não fuja da prova, nem escarneça Lúcifer; ele é um grande professor. Não tenha medo dele, pelo contrario, você deve amá-lo como Cristo o fez e, principalmente, procure entender que ele nos mostra onde precisamos nos aprimorar. Os ensinamentos de salvação já foram dados por Jesus Cristo, mas a prova libertadora será ministrada por Lúcifer.

Estejam todos nas bênçãos dos anjos!

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