"É preciso preparar-se para mais elevados conhecimentos, só neste pensamento pode a nova consciência aproximar-se da humanidade"

(Mestre El-Morya)


terça-feira, dezembro 03, 2013

Linguagem Matemática e a Ética

Já citei em um de meus blogs que matemática não passa de uma linguagem e, como toda linguagem, está sujeita a interpretações. Muitos querem atribuir uma capacidade quase divina a ela, seja no que tange a comprovações de “verdades científicas”, seja no que tange a tradução de expressões de Deus, mas, de fato, ela não passa de um instrumento sujeito às incongruências humanas. Como linguagem, essencialmente, a matemática é um instrumento de expressão, mais comumente usada para sustentar a lógica e as ciências, mas, no fundo, ela pode sustentar ilusões, preconceitos, poesia, beleza, etc. O problema começa quando se passa a considerar que a matemática determina verdades inquestionáveis. De fato, quem faz as interpretações é a mente do homem, ou seja, na prática é o homem quem continua sempre determinando as “verdades.” Aliás, o conceito de verdade é resultado de uma elucubração da mente humana. Muitos atribuem à matemática toda a base da nossa tecnologia, pois a consideram como sendo a única ciência pura que sustenta as demais ciências que desenvolvem essa tecnologia. De novo, quem cria é a mente, portanto, a base de toda nossa tecnologia é uma ciência que não recebe o devido reconhecimento, a ciência da criação. Não é reconhecida por ser uma ciência transcendente, ou seja, não tem método, é infinita.

Certa vez, Waldo Vieira comentou que a matemática sem moral é um desastre. Essa afirmação pode parecer estranha em uma primeira passada, mas todo filósofo exige de nós uma certa reflexão para ser entendido. Se mudarmos o texto e dissermos que “linguagem sem moral é um desastre” fica mais fácil de entender. Veja que, intrinsecamente, o que muda nessas duas afirmações é nossa compreensão acerca de matemática e linguagem. Nós entendemos que linguagem é um instrumento de expressão de ideias, então, quando dizemos que a linguagem não tem moral, imaginamos a expressão da imoralidade através da linguagem. Fazendo uma simples substituição de palavras na sentença acima, podemos aos poucos desenvolver nosso entendimento do que seria a matemática imoral: quando dizemos que a matemática não tem moral, imaginamos a expressão da imoralidade através da matemática. Lembre-se que tanto a matemática como a linguagem são apenas instrumentos de expressão. Uma matemática imoral pode ser a base para toda uma cadeia de manifestações imorais na nossa sociedade, uma engenharia imoral, uma ciência imoral, uma economia imoral, uma tecnologia imoral, etc. Se nós não temos a compreensão do que seria realmente a matemática imoral, talvez não tenhamos como identificar nenhuma das consequências imorais de sua aplicação. Não seria a bomba atômica uma consequência da aplicação da matemática imoral? Posso citar outros exemplos como as máquinas de guerra (tanques, aviões bélicos, artilharia), a economia capitalista selvagem, sistemas de informação intrusivos, dentre outros. É lógico que, como essa dissertação tem o foco na matemática, pode parecer que a matemática poderia ser a origem de todas as nossas mazelas, mas não é isso, ela é apenas mais um instrumento que foi conspurcado pela doença moral da humanidade. O fato é que a moral e a ética são muito mais abstratas e sutis, sendo que, se elas permeassem todas as disciplinas da mente humana, é provável que nosso mundo fosse bem diferente, ou seja, não é a matemática, mas o uso que o ser humano faz de qualquer instrumento que chega até as suas mãos.

Não vou me ater a definições formais aqui, pois, para mim, matemática é a linguagem das relações entre grandezas, sejam elas definidas ou abstratas. Entendamos como grandezas algo que possa, mais cedo ou mais tarde, ser traduzido em um número de qualquer dos conjuntos aceitos (reais, irracionais, naturais, imaginários, etc.), ou seja, algo que de alguma forma tenha os pés bem calcados no mundo finito. Isso significa que a linguagem matemática não pode “conversar” sobre o mundo infinito? Pode, mas não é um bom instrumento para ele, pois é limitada, é fruto do esforço consciencial humano de entender o mundo finito em que vivemos e não o infinito no qual existimos. Poderia ser desenvolvida para entender o infinito? Depende do homem e de suas interpretações, desde que não se prenda a preconceitos platônicos do tipo “Deus geometriza.” Não estou aqui querendo desdenhar Platão, apenas estou apontando que o pensamento de Platão fazia muito sentido na época dele e durante muito tempo que se seguiu, mas pensamentos e teorias não podem ser considerados verdades absolutas apenas por serem proferidos por grandes mentes e serem lúcidos durante séculos; se fizermos isso estaremos criando dogmas e limitando o desenvolvimento futuro do nosso conhecimento. Por mais pleonástico que possa parecer, verdades são verdades apenas enquanto possam ser consideradas verdades. Nosso universo é impermanente e ilusório, pois a matéria é fugaz, portanto, não existem verdades absolutas no nosso universo, apenas verdades parciais, fato cada vez mais evidente em todos os estudos científicos desde o século passado.

Mas vamos ser um pouco menos abstratos e demonstrar como a interpretação muda todo o significado de uma teoria. Vamos pegar a tese utilizada para explicar o que é sofisma. Para quem não conhece, a palavra sofisma vem do grego, significando: fazer raciocínios capciosos, ou raciocínios aparentemente válidos, mas incorretos. Essa tese usa a matemática para provar que 0=1. Vamos lá:

Tomemos uma série infinita: 1-1+1-1+1-1+1-1+1... ao infinito, denominada S;

Agrupemos S da seguinte forma: S=(1-1)+(1-1)+(1-1)+(1-1)+..., denominando esse agrupamento como A1 (note que o agrupamento não altera S, apenas o vê de uma forma diferente);

Resolvendo os valores entre parênteses, temos que S=A1=0+0+0+0+..., ou seja, todas somam 0, portanto, podemos concluir que S=A1=0;

Agora, agrupemos S da seguinte forma: 1+(-1+1) +(-1+1) +(-1+1) +(-1+1)+..., denominando como A2 (da mesma forma, S não é alterado, apenas visto de outra forma matematicamente aceita);

Da mesma forma, se resolvermos os valores entre parênteses, temos que S=A2=1+0+0+0+0+..., porém, o resultado final desse agrupamento é S=A2=1;

Se, como visto no primeiro agrupamento, S=A1 e, no segundo, S=A2, então, temos que A1=A2, ou seja, 0=1.

Mas o que deu errado? Usamos as regras da matemática, não usamos? A questão é que, afora algum preciosismo matemático, não tem nada errado, é tudo uma questão de interpretação, a forma de enxergar o fenômeno. Dentro do modo de entender da ciência materialista, o resultado não é válido, é uma mentira, uma demonstração sofista. Santa arrogância humana! Não conseguimos nem perceber a maravilhosa proposta que essa demonstração nos oferece. Existe uma sutileza espetacular nessa demonstração, que está na primeira sentença: “Tomemos uma série INFINITA.” A palavra infinita altera tudo. O que vemos aí não é verdadeiramente um paradoxo matemático, ou um sofisma, é uma manifestação da infinitude de uma expressão que encerra nela o próprio infinito. O que quero dizer com isso? Tire o infinito da demonstração acima e você vai ver que não se consegue mais demonstrar que 0=1. Você vai conseguir demonstrar que 0=0 e 1=1, mas nunca que 0=1; sem o infinito isso não é possível. Veja bem o que eu disse: sem o infinito, isso não é possível, mas e com o infinito, isso seria possível? Ou seja, 0 pode ser igual a 1 no infinito? Se é infinito, por que não poderia? Intrinsecamente, infinito não tem fim, não tem limites, não tem regras, o infinito tudo comporta e tudo abraça. De certo modo, o infinito se confunde com alguns conceitos filosóficos de Deus. Por que, apenas pelo fato do atual estágio da consciência humana não conseguir interpretar o que isso significa, 1 não pode ser igual a 0 no infinito? O mais interessante é que a matemática, mesmo que limitada, deu a resposta, mas o ser humano não conseguiu compreender, então, resolveu atribuir um conceito de valor, ou um preconceito, dizendo que a demonstração é uma fraude. Não duvido que, se essa demonstração fosse feita em determinados períodos da história, seu demonstrador poderia estar sujeito à prisão por bruxaria, ou coisa pior. Se juntarmos isso com a citação sobre moralidade na matemática que fiz acima, podemos entender um pouco mais como o uso de instrumentos sem manter em mente aspectos éticos pode ser um verdadeiro desastre, como disse Waldo Vieira.

Para ilustrar um pouco mais, vamos analisar rapidamente a Equação de Drake, cujo propósito foi estimar o número de civilizações em nossa galáxia com as quais poderíamos ter alguma chance de estabelecer algum tipo de comunicação:

N=R x Fp x Ne x Fl x Fi x Fc x L onde:

N -> número de civilizações que poderíamos nos comunicar;
R -> taxa de formação de estrelas na nossa galáxia;
Fp -> fração de estrelas que possuem planetas;
Ne -> número médio de planetas que podem sustentar a vida;
Fl -> fração desses planetas que consigam desenvolver a vida;
Fi -> fração desses planetas que desenvolvem vida inteligente;
Fc -> fração desses que tem o desejo e a tecnologia para se comunicar;
L -> tempo esperado de vida dessa civilização, levando em consideração que ela pode se autodestruir ou ser extinta por fenômenos cósmicos.

Essa equação é absolutamente viável matematicamente, mas o que ela realmente expressa? Uma possibilidade material da existência de ETs? É só uma equação, não dá para dizer se existem ETs com ela, entretanto, a quantidade e o nível de discussões que ela gerou quando foi formulada em 1961 não deixa dúvidas que o objetivo era expressar uma ideia complexa e controversa, aliás, muito tenebrosa, especialmente se observarmos o último elemento dela, o L. Uma matemática moral pode ser determinante para aumentar o tempo esperado de vida de uma civilização e a capacidade desta sobreviver a fenômenos cósmicos, tudo depende em que direção essa civilização dirige seus esforços. Ah! Um detalhe irrelevante, mas curioso: segundo Drake, só em nossa galáxia poderíamos conseguir nos comunicar com 2,31 civilizações, porém, os mais materialistas dizem que isso é tudo conjectura sem significado.

Por mais que o homem queira acreditar no contrário, ainda estamos muitíssimo longe de sequer tocar qualquer coisa que possa ter alguma relação com nosso conceito de verdade. Aliás, acho que esse conceito vai cair por terra quanto nos aproximarmos do entendimento da origem de nossa existência, ou seja, vamos descobrir que não existe uma verdade, existem sim interpretações derivadas de um processo criativo. As verdades de hoje são conjecturas humanas. A ciência de hoje é apenas um compêndio de teorias que já consegue, é fato, manipular e dirigir algumas forças universais, através da análise dos seus efeitos observáveis nos laboratórios desse planeta, mas não pode absolutamente confirmar que elas funcionem da mesma forma em qualquer outra parte do universo, pois não temos muitos laboratórios fora da Terra para testá-las. De fato, a verdade da humanidade se resume ao que podemos fazer nesse mísero planetinha. E mesmo assim, em vez de nos direcionarmos a expandir o conhecimento para que possamos nos elevar na compreensão da nossa existência e propósito, ainda temos que lutar para desenvolver o básico, a moral e a ética. Será que teremos tempo suficiente para demonstrar a Equação de Drake?

Paz e Luz para todos!

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